Companheiros e companheiras, a desvinculação do Centrinho da universidade e sua posterior incorporação à Secretaria Estadual da Saúde e, finalmente, a sua entrega para gestão da Organização Social FAEPA (uma fundação de direito privado, que nada mais é do que uma empresa constituída, pertencente a um grupo de professores titulares da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, que vai abocanhar no mínimo um bilhão de reais em cinco anos para administrar o Hospital das Clínicas de Bauru – HCB) encerra um longo e sórdido jogo político, no qual a única regra tem sido o uso de um manto de mentiras que mal tenta esconder os conflitos de interesses do ex-reitor (prof. Zago), do atual reitor (prof. Carlotti) e de seus sócios na FAEPA.
Obviamente, essa política, que inevitavelmente levará à liquidação do Centrinho, tem um aspecto de tragédia humanitária para o qual temos tentado chamar a atenção, mas o desenrolar dos fatos demonstra que estamos tratando com gente que tem apenas cifrões no lugar do coração e que, portanto, pouco se importa com as vidas dos pacientes do Centrinho e de seus familiares, pois tudo o que importa para essa gente são os bilhões de reais que terão sob controle, através desse jogo de mentiras e de conflitos desavergonhados de interesses políticos e financeiros
É muito importante que cada trabalhador e trabalhadora do Centrinho possa identificar todas as mentiras e os reais interesses que levaram os reitores e professores da FOB a aprovarem e levarem a cabo a desvinculação do HRAC, para dessa forma poder denunciar e esclarecer aos pacientes, aos familiares e a toda população.
Também é importante esclarecer a todos que esse golpe contra os direitos dos trabalhadores/as e dos pacientes do Centrinho está em total consonância com os projetos de privatização dos equipamentos públicos de saúde, que vêm sendo impostos pelas mãos dos governos como Doria, Rodrigo Garcia e Bolsonaro, em prol dos lucros e demais interesses dos grupos de medicina privada e das Organizações Sociais. Tal projeto, se não for barrado pela luta da classe trabalhadora em geral e dos trabalhadores da saúde em particular, acabará levando ao fim do SUS e do direito da população pobre à saúde gratuita.
AS MENTIRAS, OS INTERESSES E OS INTERESSADOS!
Em 2014, o então reitor Zago, que já havia ocupado o cargo de presidente do Conselho Curador da FAEPA, passa a alegar que a universidade vivia uma grave crise financeira, impossível de reverter sem a desvinculação dos dois hospitais (HU e HRAC). Além disso, Zago dizia que as folhas de pagamento dos dois hospitais eram as mais caras de todos os hospitais do país, que não era obrigação da USP administrar hospitais, com suas verbas e nem prestar assistência à saúde da população ou “gastar dinheiro com fraldas e nem com antibióticos”. Com base nesse discurso, Zago propõe e passa a defender que o HU e o HRAC fossem desvinculados da USP e passados para a Secretaria Estadual da Saúde. Tudo isso com o apoio do prof. Carlotti (na época diretor da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto e Presidente do Conselho Curador da FAEPA) e dos professores titulares (sócios de ambos na mesma fundação) e de professores da FOB.
A força da greve de 2014, impediu a desvinculação do HU, mas a traição cometida pela Professora Cidinha, Superintendente do HRAC na época, permitiu ao Zago e ao CO a aprovação da desvinculação do Hospital.
Hoje, oito anos depois, Zago, Cidinha, Carlotti e seus sócios na FAEPA estão prestes assumir a gestão do HRAC, só que não mais pela USP e sim pela Fundação (empresa privada na qual muitos são sócios). Com isso vão deitar as mãos em, no mínimo, um bilhão de reais em cinco anos. 100 milhões no Ato da assinatura do contrato com Secretaria Estadual da Saúde, para eventuais reformas que se façam necessárias, e mais 180 milhões de reais por ano.
De fato, o HRAC foi desvinculado da USP, mas seguirá administrado por Professores da USP, ou seja, pagos pela USP, mas que passam a administrar o hospital de acordo com seus próprios interesses e/ou interesses de seus sócios. Contando para isso com a verba pública e com o trabalho de um quadro de excelentes profissionais também pagos pela USP.
A negociata é clara e escandalosa. Os mesmos professores que propuseram a desvinculação do hospital, alegando não ser função da universidade manter e administrar hospitais, passarão agora a gerir o hospital, mantendo seus próprios supersalários pagos pela universidade, que também seguirá pagando a folha de pagamento do hospital. Ou seja, a USP continua pagando os supersalários dos gestores do hospital, bem como, a folha de pagamento do mesmo!
Sob gestão da universidade, os gestores do hospital seriam obrigados a prestar contas do destino dado a cada centavo do orçamento, nesse caso, um bilhão de reais, em cinco anos. Mas sob gestão da FAEPA, instituição de direito privado, os gestores não prestam contas de nada a ninguém.
Tem ainda duas mudanças muito ruins e mais duas grandes mentiras. A reitoria e o governo afirmam que os pacientes do centrinho e seus familiares, assim como os funcionários do HRAC não seriam prejudicados, mas o que está acontecendo de fato é que os funcionários estão sendo pressionados a assinarem um termo, em que, apesar de serem funcionários concursados, contratados e pagos pela USP, concordariam em trabalhar para a FAEPA, a fundação/empresa do Zago e associados, de acordo com as normas e diretrizes da FAEPA, que ninguém sabe ainda quais seriam. Assim se desnuda a primeira mentira.
Mas, se sabe que parte das funções desses funcionários passaria a ser o atendimento de pacientes do HCB. Aqui surge a face mais perversa desse jogo de mentiras e conflito de interesses. Uma vez que nenhum funcionário pode estar em dois lugares, ou fazendo duas coisas diferentes ao mesmo tempo, a única forma dos funcionários do Centrinho poderem atender pacientes do HCB, seria deixando de atender aos pacientes do próprio centrinho. Então, não restam dúvidas de que os pacientes do Centrinho terão seu atendimento reduzido tanto em quantidade, quanto em qualidade! Isso é inaceitável sob quaisquer aspectos!
Essa aposta bilionária do Zago, Carlotti e associados, nesse jogo espúrio de mentiras e conflitos de interesses, faz avançar na universidade o mesmo projeto da burguesia nacional e internacional de mercantilização da saúde, para enriquecimento de um bando de abutres de sapatos brancos e precisa ser denunciado, desmascarado, repudiado e combatido de forma decidida, pelos funcionários do HRAC e de toda USP, bem como, pelos professores e estudantes e pela população.
Ainda é tempo de salvar o Centrinho! Sempre será necessário lutar em defesa de nossos hospitais e do direito à Saúde gratuita e de qualidade para nós, nossos familiares e toda população!
Por isso é necessário e urgentemente fazermos essas denúncias e esse debate chegar ao conjunto da classe trabalhadora, junto das lutas em defesa do SUS e do direito a Saúde Gratuita e de Qualidade.
É urgente e necessário também cercar de apoio e solidariedade a paralisação dos trabalhadores e trabalhadoras do Centrinho no dia 13 de setembro e nos somarmos à luta pela revogação da desvinculação do HRAC!