Foi divulgada nesta sexta-feira 13 a Portaria GR 7670, que institui o retorno presencial das atividades da USP. De acordo com o documento, os funcionários vacinados com as duas doses (ou vacina de dose única) tem que retornar após 14 dias da vacinação . O retorno dos funcionários e docentes será a partir de 23 de agosto, e de aulas presenciais da graduação a partir de 4 de outubro. A portaria do reitor é um show de horrores, o que chega a causar vergonha alheia, por ser um ato da reitoria da principal universidade do país.
Conforme já expressamos na Carta Aberta aos dirigentes de Unidades da USP, a impressão é que os governantes querem acabar com a pandemia por decreto. Infelizmente, o vírus não reconhece as ordens dos governadores e gestores, e segue se alastrando.
É realmente impressionante que o reitor de uma universidade tão importante, que deveria prezar pela ciência, edita uma portaria sobre a pandemia que não faz nenhuma consideração razoável sobre a situação epidemiológica.
O show de horrores do texto já começa nos “considerandos”. O reitor elenca uma meia dúzia de pontos enfatizando como as atividades de pesquisa, especialmente, estão prejudicadas. Até aí podemos concordar. O que impressiona é que o reitor ignora que há uma pandemia no mundo, que só no Brasil já levou a 560 mil mortes! É evidente que as pesquisas estão prejudicadas, mas não por alguma razão interna à universidade. Aliás, a retomada das atividades presenciais, enquanto estivermos nessa situação de pandemia, não resolverá por si só os problemas elencados pelo reitor nos “considerandos”.
Do ponto de vista epidemiológico, o texto é lastimável. Faz menção à vacinação, mas não cita o dado fundamental, que até o momento, temos apenas cerca de 25% da população vacinada com as duas doses ou com a vacina de dose única. Uma vez mais, a exemplo do que já fazia os últimos documentos do finado GT PRAA, coordenado pelo vice-reitor e virtual candidato à sucessão reitoral Hernandes, a vacina é considerada uma espécie de passaporte individual de imunização, e não como política coletiva. Quis a ironia do destino que essa pérola anticientífica ocorresse justamente no dia em que o país viu comovido a morte de um importante ator mesmo após ter tomado as duas doses da vacina. Além disso, o que é também muito grave, o reitor desconsidera que estamos diante do avanço da variante Delta, que já preocupa todo o mundo, inclusive os países com cobertura vacinal muito mais avançada.
Com essa decisão de retorno presencial, Vahan e seu vice Hernandes abrem as portas da USP pra Covid, o que poderá levar ao aumento exponencial de novos casos e mesmo de mortes da comunidade. Esses senhores terão seus nomes para sempre lembrados por esse absurdo!
Vahan coloca funcionários como bucha de canhão
Mais uma vez, os funcionários serão os mais prejudicados. A Portaria do reitor estabelece que os funcionários e docentes vacinados deverão retornar a partir de 23 de agosto. Como sabemos, no caso dos docentes, como não há nenhum mecanismo de controle de jornada, e como as aulas só voltarão presencialmente em outubro, essa questão é letra morta. Na prática voltarão presencialmente os docentes que quiserem, eventualmente para acompanhar alguma atividade de pesquisa. Já os funcionários, que tem controle rígido de jornada, serão forçados a retornar presencialmente.
Mesmo a questão do retorno das aulas presenciais, que é o que ganhou mais destaque, não é algo compulsório. A portaria deixa a critério das unidades a definição se retornarão presencialmente com as aulas teóricas, e em que grau retornarão (isto é, integralmente ou com alguma forma híbrida).
Portanto, assim como ocorreu no início da pandemia, lá em março de 2020, em que o reitor primeiro dispensou estudantes e docentes, e somente 3 semanas depois dispensou os funcionários, mas uma vez somos nós, os funcionários, a bucha de canhão do Vahan, aqueles que na visão da reitoria podem se expor ao vírus. Justamente nossa categoria foi a mais afetada pela pandemia na universidade, já que tivemos pelo menos 40 funcionários mortos pela Covid.
Com o autoritarismo de sempre, Vahan decide tudo sem diálogo
Como já é característico dessa gestão, mais uma vez temos uma decisão que vai afetar a vida de milhares de pessoas tomada sem nenhum diálogo com a comunidade e com as entidades representativas de estudantes, docentes e funcionários. Esse tema não foi discutido sequer nos colegiados da universidade, que já são bastante antidemocráticos. Pra se ter uma ideia, ficamos sabendo dos detalhes da decisão pela imprensa!É um show de autoritarismo!
Cabe lembrar que desde o início da pandemia, o Sintusp, em muitas dessas vezes em conjunto com a Adusp e com o DCE, solicitou reunião com a reitoria para tratarmos da situação da pandemia. Não fomos recebidos até agora! No último pedido, a reitoria chegou até a pedir os nomes do sindicato que participariam, e disse que em breve a reunião seria agendada. Enviamos os nomes ainda no final de maio, e a reunião não foi marcada (um dos nomes do sindicato que participariam, inclusive, era o do companheiro Raposão, que faleceu de Covid na última quarta-feira). O reitor em muitos momentos justificou que não recebia as entidades porque as decisões eram técnicas. Como vimos pela portaria, aquilo pode ser tudo, menos “técnico” ou “científico”. É decisão política, e da pior espécie, feita monocraticamente pelo Magnífico. E são esses senhores que escrevem manifestos e dizem defender a democracia! Realmente, como diz o ditado, “casa de ferreiro, espeto de pau”.
Reitoria quer retorno, mas não garante EPIs nem protocolos de segurança
A grande ausência da portaria do reitor foi o detalhamento sobre os protocolos de segurança e garantia de EPIs. Os documentos do findado GT PRAA ao menos entravam nessas questões, estabeleciam ocupação máxima por espaço e outros indicadores. Agora a impressão é que a reitoria acha que acabou mesmo a pandemia, não tem nada no documento!
O documento fala em máscaras, mas não diz se a universidade vai garanti-las. Em agosto de 2020, quando realizou a live para falar do retorno gradual, a reitoria anunciou que havia comprado máscaras de pano para funcionários e docentes. Hoje já está mais que consolidado que essas máscaras têm eficácia muito baixa, que para garantir maior segurança é necessária a utilização de máscara PFF2. Até agora a reitoria não fez nenhuma menção se vai garantir isso para funcionários, docentes e estudantes.
Além disso, a maioria das unidades tem estruturas físicas inadequadas para uma situação de pandemia, com salas pequenas e sem ventilação. Mais uma vez, nenhuma menção no documento sobre como garantir o distanciamento nesses espaços pequenos, sobre eventuais escalonamentos.
Também não há nenhuma menção à testagem. O mínimo necessário, que seriam testes regulares para toda a comunidade, não está garantido pela reitoria!
E caso ocorra algum caso de contaminação em alguma unidade? Qual o procedimento? A unidade vai fechar, os que tiveram contato com o contaminado serão testados? Silêncio!
A ausência dessas questões no documento do reitor só reforçam que não há nenhuma preocupação com a saúde e a vida da comunidade universitária.
Várias questões sem respostas
O documento fala que as direções de unidade poderão adequar as diretrizes para as realidades locais. Mas não deixa claro qual a extensão dessa autonomia no que diz respeito à organização do trabalho presencial dos funcionários.
Por exemplo, considerando os espaços e a necessidade do distanciamento, as unidades poderão organizar escalas? E na questão do transporte público. As unidades poderão reorganizar os horários e a jornada diária de modo a evitar que o funcionário precise pegar o transporte no horário de pico?
Outra questão que causa preocupação em parte da categoria é o cuidado com os filhos. Nem todas as escolas retornaram integralmente, e muitas tem protocolos que preveem fechamento caso ocorra alguma contaminação. Como conciliar isso com os horários de trabalho? Haverá possibilidade de flexibilizações?
Enfim, a portaria do reitor deixa muitas questões sem resposta, e não aponta nenhuma perspectiva de diálogo sobre esses pontos que preocupam a categoria.
Para barrar o Retorno Irresponsável, Vamos à Luta!
No ano passado, quando a reitoria, por razões políticas, quis impor o retorno presencial, fizemos uma importante Greve Sanitária, que foi vitoriosa, e o reitor teve que recuar. Diante dessa nova medida autoritária e irresponsável do Vahan/Hernandes, não resta outra alternativa que organizarmos a luta para revertermos essa decisão.
Participe da Assembleia Geral nessa segunda, e ao longo da semana realizaremos reuniões nas unidades para discutirmos quais as medidas de luta vamos adotar, inclusive em conjunto com docentes e estudantes, para barrarmos esse ataque. O ano letivo, as pesquisas, as atividades podem ser recuperadas. A vida não! Lutemos para preservar nossa vida e de nossos familiares!